João Justiniano da Fonseca - Do livro RODELAS – Curraleiros, Índios e Missionários (pág.234/245

João Justiniano da Fonseca - Do livro RODELAS – Curraleiros, Índios e Missionários (pág.234/245):

XXVI - DULCINA CRUZ LIMA
Missionária da Educação e cultura
Segundo dados oficiais, colhidos no IBGE/BA, para uma população urbana de 3.053 habitantes e total de 4.298, Rodelas conta com 23 estabelecimentos de ensino de primeiro grau e dois de segundo grau, que oferecem as opções de magistério e contabilidade. Esta situação de privilégio se iniciou em 1933 com Dulcina Cruz Lima. Mas, há o contraste. Em janeiro de 1971, quando já existiam os dois estabelecimentos de ensino de segundo grau, a cidade contava com uma biblioteca pública construída em moldes modernos, contando 1.200 volumes catalogados, na sua grande maioria obras voltados para a área infanto-juvenil, mantendo-se  convênio com o Instituto Nacional do Livro para contínua renovação e ampliação do acervo. Nos dois anos seguintes, cresceu o número de livros. Em 1973 elegeu-se um prefeito que iniciou a gestão desviando quase todos os livros. Não é que isto se acabou! A biblioteca era municipal e a política a engoliu
Dulcina é a própria história da comunidade no que tem de mais importante, a educação e cultura. Dela, dos seus ensinamentos e dedicação, do seu estímulo e apoio, viemos todos nós da era atual que galgamos uma posição de destaque na vida, tanto os que fomos seus alunos quanto os que foram alunos de uma de suas ex-alunas, os novos repetindo os antigos. Dela, do seu estímulo, do seu poder de convencimento, de sua palavra afetuosa, veio-nos a vontade de estudar e progredir, e mais que isso, de conduzirmos nossos filhos a um destino melhor, pondo-os no caminho do saber. Dela, do patriotismo que criou em nós na primeira fase da vida, talvez decorresse a disposição que tivemos para defender a nossa emancipação político-administrativa e pensarmos no melhor caminho para a comunidade - a educação. Há exceções, é claro, mas, as professoras suas ex-alunas seguiram-lhe os passos com a mesma dedicação para com a escola e os escolares, e em Rodelas, ainda hoje se faz com o mesmo entusiasmo, a mesma festa cívica do Sete de Setembro que implantou entre nós. Aqui, muitos dos que vêm de sua escola e da escola de professoras suas alunas, embora todas as mudanças de vida, todos os novos conceitos e convicções, todas as divergências pessoais e até os desvios morais que já apontam no segmento da era moderna, têm uns sinais de sua caligrafia, e, sem se aperceberem disso, algum traço de sua grandeza. Sua letra ficou tal qual um carimbo impresso; algumas de suas ex-alunas poderiam firmar sua assinatura sem dificuldade. Mais que isso, o seu método de ensinar e educar, de oferecer cultura e patriotismo, irradiou-se, por via de suas alunas, para a região e para lugares mais distantes. Ex-alunas suas ensinam em Salvador, com bom desempenho e conceito. Antes dela só houve um destaque em Rodelas - o Dr. José Lima. Hoje, muitos de Rodelas se apresentam em áreas diversificadas da profissão liberal ou técnico-universitária e desses, os que não foram seus alunos, receberam sua influência através de professoras que se iniciaram com ela.
Dulcina obrou o milagre de construir uma sociedade, partindo da organização de um pequeno povo de hábitos de caboclo, de uma gente sem noção de coisa mais importante do que criar bode e plantar batata e jerimum na vazante do rio, de crianças que brincavam na lama do alagadiço.
Este é um capítulo especial, de muitas vozes. Como primeira, a de Manuel Moura, hoje guardado, como Dulcina, na eternidade. Trata-se de um trabalho inédito que deixou sobre a mestra. Elaborado em forma de relatório, é, no texto, uma peça literária e apresenta, nos anexos, momentos da Escola Felipe dos Santos, de Rodelas e mesmo da vida, talvez dos sonhos da professora. O autor o elaborou na qualidade de prefeito, não tenho informação do destino que pretendia dar-lhe, talvez o produzisse quando inaugurou uma escola com o seu nome, para iniciar a memória da Casa. Talvez pensasse, simultaneamente, em guarda-lhe a memória. Nele diz sucintamente das atividades e da pessoa. Os termos de visitas oficiais de inspetores escolares anexados ao trabalho, transpiram entusiasmo pelo ensino local e admiração pela mestra:

"RELATÓRIO sucinto das atividades escolares da professora Dulcina Cruz Lima.
Relatar as atividades escolares da professora Dulcina Cruz Lima, em Rodelas, constitui motivo de satisfação para mim, na qualidade de seu ex-aluno, integrante que fui da sua primeira turma matriculada nos idos de 1933.
Fazê-lo sucintamente, no entanto, não diz verdadeiramente de sua brilhante atuação no desenvolver do povoado, que ela acompanhou, preparando a sua juventude, vivendo os seus principais dramas sócio-econômicos e as suas festividades, até a sua elevação, nos dias presentes, à categoria de Cidade.
Em 1932, (1) há 33 anos, chegou Dulcina Cruz Lima, ao então povoado soturno, de condições de vida precárias, sem meios regulares de comunicação. Era a primeira e única professora de Escola Estadual. Vale lembrar o seu heroísmo, aceitando resolutamente, a cadeira de Rodelas, inspirada naturalmente, no patriotismo que lhe não faltaria para servir à sua gente e sua terra natal, que não conhecia.
Descende Dulcina de uma das famílias mais abastadas da região e fora educada no Recife, onde se diplomou. Não visava, pois, unicamente à remuneração do cargo público e sim, também a oportunidade para demonstrar a sua vocação apostólica e para proporcionar a instrução e a educação do povo simples, da perdida, da tão rejeitada quanto esquecida povoação encravada no ponto mais norte da Bahia,(4) no inóspito sertão, na era infestado pelo banditismo que teve a sua expressão mais forte no temível Lampião.
Moça, inteligente, culta, constituía motivo de admiração e respeito. Granjeou as simpatias gerais e a sua figura era um verdadeiro constante na paisagem grotesca e simples da modesta terra.
Recrutada a primeira turma, foram feitas as primeiras matrículas. Em seguida, a seleção e a constituição de um grupo de meninos que passaria a ser a primeira série primária. Foi o início de uma grande luta, em que o trabalho incessante não a prendia unicamente à escola. A professora Dulcina sempre esteve presente na orientação das coisas da igrejinha, na realização de festas cívicas, de horas recreativas, na exercitação de esportes, na preparação de paradas da mocidade e na levação de peças teatrais, que se tornaram famosas, atraindo, inclusive, pessoas das localidades vizinhas.
Jamais uma data histórica passou sem uma palestra, sem recitais, ou sem a competente comemoração. O ponto culminante das festas cívicas sempre foi o Sete de Setembro - alvorada, hasteamento da bandeira nacional, palestras, recitais pelos alunos, jogos esportivos e paradas pelas ruas principais, sob o entusiasmo dos hinos e o ruflar de tambores improvisados. Sete de Setembro em Rodelas, não é apenas festividade nas escolas. É festa de todos, porque o povo civicamente em festa, acompanha o desenrolar de tudo, alegre e vibrante.
Assim, poder-se-ia enfileirar nas seguintes atividades, a presença de Dulcina em Rodelas: 1 - Trabalho, dinamismo e amor pelo ensino; 2 - 10 anos (os primeiros) sem qualquer orientação direta do órgão competente; 3 - conclusão de várias turmas do 4º ano, com programa do 5º; 4 - celebração de festas lítero-recreativa; 5 - pronunciamento de dezenas de palestras sobre os diversos assuntos do interesse escolar e da comunidade, de que não ficou registro; 6 - influência positiva na formação da juventude, hoje presente e responsável pelos destinos da terra; 7 - mestra de muitas professoras que já foram mestras de outras professoras; 8 - criadora da Caixa Escolar e de Museu e fundadora da Biblioteca Escolar; 9 - executou, sem enfado, os programas escolares e cumpriu devotamente o dever; 10 - primeira professora da terra, quando reinava o banditismo nestes longínquos sertões baianos; 11 - primeira Delegada Escolar, exercendo com eficiência e dinamismo o seu novo mister.
Dulcina fez com que a comunidade vivesse a escola, sem que esta se ausentasse da comunidade. Irmanadas, escola e comunidade, construíram a formação cívico-religiosa de Rodelas, cujos frutos aí estão patentes, com a sua independência político-administrativa e com a existência de um ginásio, no seu segundo ano de vida, cujo corpo docente é constituído de inteligentes e dinâmicas filhas de Rodelas, que seguem com altruísmo, o exemplo edificante da antiga mestra, cujo denodo não se esmaeceu com o tempo.
É pena que o pioneirismo de Dulcina em Rodelas, tenha se perdido sem registro, salvo o da memória, sempre presente e viva na lembrança de cada um de nós, sobretudo e de modo especial, de nós, os seus ex-alunos, muitos deles gozando de boas posições nas carreiras públicas.
Dulcina, assim, foi a centelha e acendeu a chama que hoje se orgulha da sua formação sadia e do prestígio de que desfruta entre tantos que lhe dão a honra de uma visita.
Em 1963 - já delegada escolar, por ocasião da festa de instalação do Município, com a posse dos vereadores e do prefeito, a professora Dulcina promoveu em dramatização teatral, o histórico de Rodelas, com personagens típicas, em amplo palco em que a praça pública foi o grande anfiteatro que abrigou o povo, que, em delirantes palmas, as mais calorosas, ovacionou as diversas passagens da história ali representada.
Rodelas rende as suas homenagens e o seu agradecimento à Professora Dulcina Cruz Lima. Rodelas, 28 de agosto de 1965. Manuel Moura - Prefeito”. (2)

Como se vê do relatório acima, em 1963, quando lhe sobrava tempo para o gozo da merecida aposentadoria, Dulcina deixava a regência da primeira escola de Rodelas, para aceitar o cargo de Delegada Escolar. Para ela não fazia sentido o gozo da aposentadoria, que entendia como ociosidade. Agradava-lhe o trabalho, a prestação do serviço, a presença junto às crianças e aos jovens. Talvez precisasse também da vantagem remunerativa, mas isso não era, definitivamente, o importante, tanto assim, que alcançada a estabilidade econômica, nesta incluído o valor da gratificação de delegada escolar, continuou trabalhando. Dulcina, era, definitivamente, amor e dedicação à comunidade. Não se casou, não teve filhos. Seus filhos eram os seus alunos e mesmo os ex-alunos. Era uma alegria, para ela, recebê-los e abraça-los, levar horas de boa palestra, utilizadas quase sempre para proselitar pela grandeza local, orientar, sugerir - ainda fazer cátedra.
Seu trabalho de professora e mestra não somente foi admirado e respeitado pelos Inspetores Escolares Bertino Valverde e Clóvis Mota, que visitaram a escola. Foi, acima disso, louvado e dado como exemplo a seguir pela comunidade de professores baianos. Vejamos as expressões desses relatório:
"Tive ensejo de visitar, nesta data, a Escola Estadual mista da Vila de Rodelas, eficientemente regida pela professora Dulcina Cruz Lima, que encontrei em pleno exercício das suas nobilitantes funções, presentes 40 alunos dos 47 matriculados. Assisti os trabalhos escolares do dia, tendo argüido os alunos das diversas classes sobre Língua Vernácula, Aritmética, Geografia e História do Brasil notando surpreendente aproveitamento, a par de excelente disciplina - fruto da orientação sadia que vem imprimindo ao ensino a dedicada Mestra. A Professora Dulcina Cruz Lima, pela sua assiduidade, amor ao trabalho e excelente conduta, constitui um exemplo no seio do professorado. É, pois, da mais irrestrita justiça consignar neste termo a ótima impressão que levo dessa tenda de trabalho produtivo, sentindo-me pago da fadiga de tão longa viagem, ao visitar essa Escola dos rincões nordestinos. Deixo neste termo exarados os meus francos louvores pela atuação da distinta Educadora, que com verdadeiro espírito de Mestra, vem emprestando o seu entusiasmo moço à causa suprema da educação da nossa gente. Rodelas, 24 de setembro de 1942. Renato Bertino Valverde".
"Tenho, hoje, a feliz oportunidade de lavrar, satisfeitíssimo, o devido lançamento de registro das visitas que fiz à Escola Góis Calmon, nesta vila de Rodelas, Município de Glória, em os dias 19 a 22 de setembro de 1944. Regida proficuamente pela ilustre, competente, culta e dedicada educadora, Dulcina Cruz Lima, esta escola muito justamente afamada e conceituada impressiona por tudo o que nela se observa. Fato raramente visto, a Escola Góis Calmon, por seu passado cheio de tradição e glória é o que deve ser, o núcleo, o centro de toda atividade intelectual ou espiritual de Rodelas, e, sendo assim, bem pode servir de padrão ou modelo para as nossas instituições de ensino disseminadas no interior da Bahia e do Brasil. Fato ainda raramente visto, a Escola Góis Calmon impressiona, logo, à primeira vista, pelo aproveitamento e entusiasmo de seus discípulos. É um organismo vivo, animado, cheio de saúde, de vigor e de esperança. Em Rodelas, as crianças possuem uma rara e completa noção de dever e de patriotismo. São dedicadas, esforçadas, amáveis, atenciosas, sempre dispostas e disciplinadas. A professora Dulcina Cruz Lima é muito admirada, respeitada e amada de seus alunos. Tem gosto, conhecimento vasto, ótima conduta social, espírito de sacrifício; é estudiosa, apta para o ensino, aplica os programas, tem capacidade de trabalho, muito distinta para os colegas e discípulos, sempre assídua e abnegada. A professora Dulcina Cruz Lima é digna de todos os louvores possíveis, digna também de ser promovida, de ser admirada e invejada por seus colegas. A Escola Góis Calmon terá, certamente, à altura de seu passado ilustre um futuro não menos brilhantíssimo. Rodelas, 22 de setembro de 1944. Clóvis Mota de Oliveira".
A escola de Dulcina foi denominada Felipe dos Santos e assim conhecida por nós. Ignoro a razão pela qual o inspetor Clóvis Mota a chamou de Góis Calmon. Se quis oficialmente esse nome, perdeu tempo, ainda hoje chamamos de Felipe dos Santos a nossa querida escolinha, que, se já não existe fisicamente, está viva na alma de seus alunos, uns poucos ainda sobre o chão da vida. Não seria sob a orientação de Dulcina e pela concordância de seus alunos que se substituiria o nome do mártir revolucionário pelo do político. (3)
Bertino Valverde foi o primeiro inspetor escolar a pisar o chão de Rodelas e ia 10 anos depois de iniciados os trabalhos de Dulcina. Deixou sua impressão de caloroso entusiasmo. Voltaria no ano seguinte, para repetir as referências elogiosas. E ia, por onde passava, divulgando o ensino em Rodelas e promovendo sua professora. Clóvis Mota viria dois anos depois e já tinha as referências, conhecia as tradições, oferecidas pelo seu colega e pelas escolas visitadas na região antes de aportar em Rodelas. Sua palavra não é apenas de louvor e engrandecimento da escola, da mestra e dos alunos, é de franco entusiasmo. Era assim Dulcina, foi assim a sua escola e mesmo as escolas de Rodelas enquanto as coordenou como Delegada Escolar.
Missionária da educação e cultura em Rodelas. As festas escolares, os passeios recreativos e as festividades comemorativas de datas nacionais, eram, talvez os pontos mais altos de sua escola, os que despertavam maior entusiasmo na sociedade, e correspondiam a criar, nos alunos, amor pela mestra e assim, pelo aprendizado. Motivadas pelo seu exemplo, essas atividades também se desenvolviam nas mais escolas e continuariam por muito tempo.  Veja-se na palavra moça de Antônio Cesário Rezende, um seu ex-aluno que a morte quis levar muito cedo, por volta dos vinte e três anos, duas atas de atividades correspondentes a eventos dessa natureza:
"Às cinco horas da manhã - era o Sete de Setembro de 1939 -, entusiástico grupo de rapazes despertou os habitantes ao som de hinos patrióticos. Às oito horas procedeu-se ao hasteamento da Bandeira na fachada da Escola. As crianças declamaram várias poesias e o aluno do 4º ano - Antônio Eustáquio Rezende, fez um bonito discurso exaltando o nosso Auriverde Pavilhão. A Professora Dulcina Cruz Lima fez uma importante conferência sobre os Fatos e Vultos que concorreram para nossa emancipação política, aumentando com suas palavras esclarecidas, o entusiasmo dos sertanejos que também sabem amar à terra e aos seus antepassados. Às nove horas, num entusiástico desfile, o batalhão infantil alegrava a rua com seu uniforme azul e branco e patrióticas canções. Às dez horas, houve em frente à escola um animado jogo, cujos contendores ostentavam as cores de nossa Bandeira, cabendo a vitória ao famoso partido amarelo. Às dezesseis horas, houve uma concentração num palanque (erguido) em meio à rua. Cada série escolar exibiu, com perfeição, uma ginástica apropriada à sua idade e recebeu calorosa aclamação".
"Aos cinco dias do mês de setembro de mil novecentos e quarenta e um, a Escola Estadual de Rodelas, eficientemente regida pela Professora Dulcina Cruz Lima, realizou, com grande solenidade, a primeira comemoração do Dia da Juventude. A mocidade rodelense que em dez anos de proficiente labor em prol da instrução, sob a orientação da professora Dulcina Cruz Lima, adquiriu, a exemplo da mestra, uma mentalidade viva, para compreender a grandeza do amor à Pátria e um coração cheio de entusiasmo e de nobres aspirações, vibrou ardentemente neste dia que lhe foi consagrado. Às cinco horas da manhã, a população rodelense foi despertada ao ruflar dos tambores e o ritmo cadenciado dos hinos da juventude. Às oito horas foi solenemente hasteado o nosso Pavilhão no edifício da Escola Estadual, tendo discursado a escolar Domitila Fonseca, que entusiasticamente falou sobre a pátria e a juventude. Várias crianças recitaram e, ao som dos hinos patrióticos houve em seguida um garboso desfile de pelotões de escolares e de toda a mocidade, que, uniformizada de branco, deu à nossa festa alto cunho de beleza e de entusiasmo. Às dezesseis horas a mocidade rodelense teve a oportunidade de assistir, à margem do belo São Francisco, a uma regata onde alguns jovens, verdadeiros titãs do remo, na maior parte descendentes da tribo Tuxá, que habitou a aldeia de Rodelas, deram uma demonstração da força e da habilidade com que costumam vencer as águas do grande caudal. Foi um espetáculo maravilhoso. Jovens e crianças acenando bandeirinhas verdes e amarelas, no ardor da torcida, incitavam os campeões à vitória. Entre palmas e ovações o barco amarelo alcançou a primeira meta, chegando ao auge o entusiasmo. Finalmente às seis horas - o hábito faz o monge, de tanto dizer às seis da tarde, acaba-se escrevendo seis no documento, eram dezoito horas, sem nenhuma dúvida - depois de ligeiro desfile, formaram em frente à Escola para arriar a Bandeira. A professora Dulcina Cruz Lima, num eloqüente discurso, falou sobre a escola na formação da juventude, incentivando os jovens a novas investidas no campo dos estudos, para a conquista de um futuro brilhante. Ao som do Hino Nacional foi arreado Auriverde Pendão".
Os piqueniques e passeios recreativos tinham um destaque especial na escola de Dulcina e, sendo de recreio, funcionavam sobretudo como uma oportunidade para a mestra falar da natureza, dos animais e das árvores, das belezas do campo, de ecologia. Ficaram especialmente lembrados a caraibeira do cercado de Honorina Gomes e o cajueiro da Ilha da Porta. Recaiam esses passeios, geralmente, em dias da primavera e a caraibeira era um amarelo só, belo, quase fulgurante, a cuja sombra, na areia do riacho, as crianças sentavam-se ou deitavam, conforme a vontade de cada qual. O cajueiro, todo róseo, oferecia uma fronde inteira de sombra e sonho, de deleite espiritual para a professora e seus alunos - parecia que Deus estava ali, com a gente, sorrindo e brincando, cantando, também sonhando.  Em hora certa, era aberto o farnel e cada um oferecia do seu aos colegas mais próximos. Vale a pena ler a descrição da aluna de segundo ano, Eronita Almeida e a fábula de Domitila Fonseca, divulgadas no jornal escolar, que buscava estimular os pendores literários dos escolares:
"O Cajueiro da Escola. Fica na ilha da Porta o cajueiro querido da Escola. Ele é sempre verde e no fim do ano cobre-se de florinhas róseas que se transformam em lindos cajus de ouro. Seus galhos caem sobre a terra, sua copa faz ótima sombra. É sempre uma grande alegria para nós, quando a mestra diz que vamos passear no cajueiro. Ficamos muito contentes, porque, sob aquela copa perfumada, temos passado horas deliciosas... Alunos e ex-alunos têm grande estima ao belo cajueiro, pois foi nele que a escola já fez os seus melhores piqueniques. Eronita Almeida".
"A Colméia Desprezada. Uma colméia vivia em completo abandono, cheia de operárias, guiadas por uma abelha-mestra. Todos os dias as abelhinhas produziam o mel com muito cuidado e gosto, sem receberam nenhum estímulo, pois os vizinhos das abelhinhas nem se lembravam de fazer uma pequena visita àquele cortiço esquecido, para experimentarem um pouco do seu mel... As operárias passavam meses ali, bem contentes, produzindo o mel junto com a abelha-mestra e, no verão, separavam-se umas das outras; iam colher no campo o néctar das flores... Dois meses depois, reuniam-se no cortiço e continuavam o labor... Assim passaram alguns anos, sem ninguém observar o seu trabalho. Mas... um dia, um sábio besouro veio visitar a colméia! As abelhinhas ficaram todas alvoroçadas e a abelha-mestra vendo aquele pânico, levantou as asas em sinal de paz. O besouro veio examinar os trabalhos da colméia. Achando-os bem feitos elogiou-os e partiu, depois de três dias, deixando muito saudosas as abelhinhas... Desse dia em diante, a colméia ficou bem lembrada por todos e as operárias produziam o mel com mais amor à abelha-mestra, pois, só depois disso vieram a compreender o valor do seu trabalho e a eficiência de sua direção. Domitila". A fábula era uma alusão à primeira visita de um Inspetor Escolar a Rodelas. Abelhas operárias eram os alunos, abelha-mestra a professora. Vejam-se as datas: Ata da visita tem data de 24 de setembro de 1942, o jornal é do mês de outubro seguinte.
RECORDAÇÃO, foi o nome do jornal escolar, manuscrito, criado por Dulcina. O único número que me veio às mãos é o primeiro. Foi produzido em outubro de 1942. Em que periodicidade se realizava? Teria ido adiante? E por quanto tempo? Era, sem dúvida, um belo esforço, digno de admiração e louvores, editar um jornal escolar manuscrito.  Dulcina o realizou. Certamente circulava de mão em mão, o primeiro leitor passando-o ao segundo, este ao terceiro, até alcançar o último. Esse primeiro número é aberto com um editorial de sua lavra, nestes termos:
"Arrimado ao bordão da esperança, sai a lume RECORDAÇÃO, o humilde jornalzinho escolar de Rodelas.
Não tem ele, a pretensão de deleitar o público, pois, muito tenro ainda, não distende ramos floridos em cuja sombra o leitor possa embriagar-se de seus perfumes.
É elaborado, por pequeninos cérebros que, perdidos nos meandros da "cidade luz", não conseguem haurir, nas constelações do alfabeto, irradiações que iluminem as suas colunas...
RECORDAÇÃO, não presume ser um escrínio, pois não encerra ‘as imperecíveis jóias do saber', ele alimenta a esperança de despertar nos escolares, o amor à instrução e desenvolver os pequenos intelectos.
Incentivando o trabalho mental, será o relicário em que, alunos e ex-alunos depositarão as fagulhas de suas inteligências e as flores róseas de suas saudades e recordações. DCL".
São seis páginas de letra primorosa, a da professora, ela mesma trabalhando o jornalzinho, nas quais desfilam Eronita Almeida, 2º ano; Renilde Almeida, 2º ano; Carmelita Cruz, 3º ano; Maria do Patrocínio, 4º ano; Maria Cruz - Sineide; Domitila da Fonseca, essa em dois trabalhos.
Esta foi a professora Dulcina Cruz Lima, que ofereceu quase cinqüenta anos de sua vida a Rodelas, ao ensino, à cultura, ao desenvolvimento local. Sente-se o amor derramando pelas bordas do coração, em cada uma das manifestações acima transcritas, acerca de Dulcina, de sua escola, do aprendizado que ali se fazia, das festas, do trabalho, do próprio amor.
Nascida a 20 de maio de 1913, marcava, ao falecer, 68 anos de idade. Seu nascimento se deu na fazenda Pedra Comprida (Cercado), às quatro horas da tarde. Seus pais foram Policarpo Tolentino Rodrigues Lima e a primeira esposa deste, Antônia da Cruz Lima, sendo avós paternos Domingos Rodrigues Lima e Maria Alventina Lima; maternos Antônio Felipe Gomes da Cruz e Tereza Merência de Jesus. Do lado do avô Domingos Rodrigues era bisneta de Francisco Rodrigues Lima e Senhorinha Maria de Sá; trineta, pelo lado da bisavó Senhorinha, de Domingos da Fonseca e Azevedo e Tereza Gomes de Sá. Do lado da bisavó Maria Alventina, era trineta de Francisco Tolentino da Fonseca e Emília Maria da Conceição, sendo, por este bisavô Francisco Tolentino, trineta de Maneol Ciriaco da Fonseca. Do lado da avó Tereza Merência, era bisneta de Miguel Gomes da Fonseca e Ana Maria da Fonseca - Aninha. Trineta de Lucas Fernandes da Fonseca e Bernardina Ramos de Assunção. Por parte da terceira avó Bernardina, vinha a ser quarta neta de Lucas Fernandes de Rezende, e possivelmente quinta-neta (ou sexta) de Manoel da Roxa de Souza e sua mulher Maria Ramos da Souza, moradores na fazenda Sorobabel em 1779. Ainda pelo Sá – Tereza Gomes de Sá, segunda esposa de Domingos da Fonseca Azevedo -, descendia, certamente do capitão Antônio Gomes de Sá, de 1696. Era, por parte do bisavô Miguel, segunda vez trineta de Domingos da Fonseca e Tereza Gomes de Sá. Vê-se que tinha, a partir dos trisavôs, tripla carga do sangue Fonseca, descendendo dos irmãos Domingos (duas vezes), Manoel Ciriaco e Lucas Fernandes. Formada pela Academia Santa Gertrudes, de Recife, Pernambuco, em 1931, aos 18 anos, aos 20 entrava em Rodelas.
Dulcina é a única glória inapagável de Rodelas nos caminhos da educação e da cultura, que falarão dela para sempre.
NOTAS
1 - Há, aqui, um engano, quanto à chegada de Dulcina a Rodelas. Ela chegou ao começo de 1933.
2 - Documentos do arquivo da Professora Joana Lima Rezende da Fonseca, em cópia no arquivo do autor.
3 - Felipe dos Santos, nascido em Portugal em data que não se sabe, chefiou a revolução mineira de 1720, em Vila Rica, o mesmo chão que 59 anos depois seria revolucionado pelo Tiradentes. Foi sentenciado à morte e enforcado, tendo, ainda, seu corpo preso à cauda de um cavalo e, assim, exibido nas ruas da cidade. A sentença dos bravos tinha o seu toque de perversidade: o Tiradentes também a sofreria, sendo, depois de morto, o seu corpo cortado em pedaços que se espalharam pelas estradas das Minas Gerais, para exemplo dos fracos.
4 - Há um equívoco na informação de o “ponto mais norte da Bahia” em Rodelas. Estará entre Juazeiro e Sobradinho


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Apêndice do livro Rodelas, Curraleiros, índios e Missionários
Póstuma
Encontro entre os meus manuscritos esquecidos, uma peça que não datei. A intenção era publicar. Por falta de oportunidade, ficou inédita. Confesso que não me lembro se dei-lhe ao menos o destino de fazer chegar aos familiares de Dulcina. Penso muito e trabalho sem parar, por isso mesmo esqueço muito. É oportuno divulgar o que se faz com todas as forças do coração:
Em 1933, quando Lampião de um lado, do outro a polícia volante instituída para dar-lhe combate - os dois juntos desabavam como um castigo sobre almas sem pecado, e na sua esteira a calamidade da seca dizimava a sobra da perseguição ao sertanejo e seus escassos bens, em março de 1933, Dulcina Cruz Lima chegava a Rodelas com uma nomeação de professora primária e as mãos cheias de cartilhas e primeiros-livros. De quebra, giz branco e um quadro-negro.
Até aí, haviam sido o mestre-escola e a palmatória. Instalada a escola oficial no então povoado de Glória, mais uma aldeia indígena do que uma povoação de brancos, Dulcina deu-lhe o nome de Felipe dos Santos, em homenagem ao chefe da rebelião mineira de 1720, cujos ideais de liberdade, talvez o enforcamento e a exibição pelas ruas de Ouro Preto atado à cauda de um cavalo, a sensibilizaram. Nas horas de depressão, doença que eventualmente acomete a todos nós, face a alguma dificuldade maior e às incontáveis grosserias e manifestações de ingratidão de muitos, sorria dizendo: - a tragédia do patrono acompanha a escola e se reflete sobre ela e até sobre a professora, mais de duzentos anos depois...
Em Rodelas ficou, ainda que recebesse propostas de mudança para lugares outros, melhores. Em Rodelas permaneceu, apesar do constante perigo, da permanente ameaça do cangaço, Lampião entra-não-entra no povoado onde a segurança se constituía de civis armados. Nascida na fazenda Cercado, na jurisdição de Rodelas, foi criada entre Abaré e Belém do São Francisco, Pernambuco, de onde saiu para o internato de Pesqueira. De modo que, quase não conhecia o povoado onde se fizera o tronco de um dos ramos de sua família - os Fonseca e os Rodrigues Lima. Mas, era a sua terra e a atraía. Era a raiz. Aí continuou, não obstante todas as dificuldades, toda a falta de compreensão, todo o isolamento do mundo civilizado de onde viera. Moça culta e inteligente, muito mais educadora do que simples professora primária, foi implantando, lentamente, a civilização e a cultura entre aquela gente que, contrariando a regra, absorvera os costumes indígenas ao invés de transmitir os seus ao nativo.
De seu programa constava aulas de ginástica, esporte e jogos esportivos, recitais de poesia, arte dramática, horas recreativas e festas escolares, a irrecusável comemoração das datas cívicas. O Dois de Julho, que chamava Independência da Bahia, o Sete de Setembro, o Quinze de Novembro, o Dezenove de Novembro, o Vinte e Um de Abril, que em certa época foi Dois de Maio, todos os eventos da Pátria, sem esquecer o Vinte e Dois de Setembro, quando levava as crianças a piqueniques onde não faltava a árvore a plantar. Aulas de civilização na escola e nos passeios das casas à hora da visita e da palestra com os amigos. Civilizou, no bom sentido da palavra, uma terra de incivilizados de todos os níveis, de brutos e embrutecidos. Foi uma missionária em uma terra que precisava, então, do trabalho missionário. Quis plantar, sozinha, pelo trabalho e a persistência, pelo amor, a semente que trazia no cofre de sua mente - a literatura e a arte dramática, ao lado do ensino geral, e adubou-os com o fertilizante do coração. Sua dedicação era tanta, que chegava a manter uma biblioteca sua, particular, para emprestar livros aos meninos mais adiantados. Sua árvore cresceu e frutificou, lançou, longe, novas sementes.
Foi regente da Escola Felipe dos Santos, posta lá em cima, na sala do sobradinho onde fui seu aluno - durante mais de trinta anos. No princípio, professora única na localidade, mantinha uma matrícula de sessenta alunos. Mais adiante, vieram as suas alunas já feitas professoras e foram suas colegas. Só aí passou ao atendimento de trinta alunos, que nunca deixou de ter até o fim, sua escola preferida entre as demais. Ex-alunos seus, queriam os seus filhos em sua escola. E assim foi sem uma licença única, sem outro afastamento que não fosse o das férias anuais. As escolas se multiplicaram, professoras entravam e se removiam para lugares mais futurosos. Ela ficava. O povoado se emancipou politicamente e foi sede de município. Dulcina foi nomeada Delegada Escolar, a primeira Delegada Escolar de Rodelas, mantendo-se no cargo por mais dez anos.
Quando se aposentou, contava mais de quarenta anos de magistério. Já cansada, doente, envelhecida. Aposentada voltou a residir em Belém do São Francisco, terra de sua infância e primeira mocidade, onde estavam alguns dos seus familiares mais próximos. Sozinha. Não quis casar-se, não obstante o assédio dos primeiros tempos. Quem acompanhou sua vida, chega a supor que ela não teve tempo de pensar em casamento, tão entranhada vivia no seu amor ao ensino e ao trabalho, aos seus alunos. Na verdade, casou-se com o trabalho e a ele se dedicou a vida inteira, amou-o intensamente. Em Belém, aposentada, não deixou Rodelas, onde ia constantemente. Passava dias, abria o velho sobrado dos antigos familiares, mandava limpá-lo, fazia conservar.
Rodelas tem, hoje, fruto da semente que aí plantou em 1933, duas escolas de 2º grau, das quais saem anualmente duas turmas de professoras que se espalham pela região. Não apenas na região, mas em Salvador, Recife, Rio, São Paulo, Brasília, encontram-se ex-alunos seus e de suas ex-alunas, nesta sucessão de quarenta anos. Entre estes há médicos, bacharéis, engenheiros e até escritores e poetas.
Se alguém prestou serviço e se deu a uma terra, foi como Dulcina a Rodelas. E neste caso, com imensos reflexos sobre a região, que absorveu seu exemplo de trabalho e amor. Cumpriu a missão como poucos o fariam em qualquer parte do mundo, em qualquer circunstância e posição social. A própria emancipação política do município está no embrião da semente de 1933, uma vez que foi idelizada e pleiteada, reivindicada por ex-alunos seus e pelos amigos mais próximos.
No dia dois de outubro, em Recife, para onde fora transferida uma semana antes em tratamento de saúde, passou à vida eterna. Bondosa como toda a vida, morreu falando no nome dos amigos ausentes.
- Dulcina, tua lembrança ficará conosco, com os nossos filhos, com os filhos dos nossos filhos, e quando, na distância do tempo já não fores lembrada das gentes, renascerá em cada ser do nosso sangue, a semente.
* * *
MANUSCRITO DE DULCINA LIMA.
Confiado ao autor, o esboço a seguir, destinava-se a um trabalho solicitado pelo Inspetor Regional, a ser publicado no Boletim Regional de Ribeira do Pombal. Não o conluio por falta de material de pesquisa. Em homenagem à querida amiga, transcrevo-o textualmente:
"Chamava-se "Sertão de Rodelas" a extensão territorial compreendida entre a foz do Riacho do Pajeú, até a embocadura do Rio Carinhanha, da nascente do Rico Carinhanha até o extremo norte do Vale do Canindé. Esta é a conclusão obtida, entre as variadas afirmativas dos historiadores, sobre os limites dos domínios do "Sertão de Rodelas".
Rodelas - era a denominação dada às diversas aldeias desta região, fundadas pela tribo dos Tapuias. Entre os Tapuias, os índios que mais atuaram, conquistando domínios, fundando aldeamentos, foram os Cariris, o seu mais numeroso e importante ramo.
A nação Tapuia dominou às margens esquerda e direita do grande São Francisco. Conquanto fossem valorosos e bravos, os nativos gostavam da paz.
Diz a tradição que os índios adornavam-se com rodelas de ossos e daí veio o nome dado às aldeias de Rodelas, mas afirmam os historiadores Barbosa Lima Sobrinho e Pereira da Costa, que o vocábulo Rodelas, provém do formato de um escudo circular usado pelos Tapuias como arma de guerra.
Por usar este escudo e ser valente guerreiro, o índio Francisco, foi cognominado Francisco Rodelas. Este denodado indígena, foi nomeado a 29 de agosto de 1674, para o cargo de chefe das aldeias de Rodelas, como o posto de capitão.
No decorrer do tempo o elemento europeu foi se apoderando dos terrenos mais prósperos, fundando vilas, afugentando os nativos, que iam-se aglomerar em outras aldeias mais poderosas, e assim os aldeamentos foram se reduzindo.
Desapareceu o nome de "Sertão de Rodelas", e cada aldeia restante, recebeu uma outra denominação. Somente esta aldeia de Rodelas, à margem direita do Rio São Francisco, nas proximidades da ilha de Sorobabé, passou às gerações futuras como o nome de Rodelas.
Era habitada por índios da tribo Tapuia e que se cognominavam de Tuxá. Viviam da pesca e da lavoura, eram exímios remeiros e ótimos nadadores, dirigindo os barcos com destreza e perfeição.
Rodelas permaneceu em categoria de aldeia até 1897. Após a guerra de Canudos, em decorrência da atuação de alguns índios em favor do fanático Antônio Conselheiro, foi extinta a aldeia. Em 1942 conseguiram os descendentes da tribo e alguns índios remanescentes, já bem idosos, elevar novamente Rodelas à categoria de aldeia. Foi instalado um Posto Indígena, onde um chefe está sempre em contacto com os Poderes Públicos. Foi grande a vantagem para a população, pois a FUNAI dá muita assistência ao aldeamento e a todos os seus componentes.
Os indígenas dão expressão às suas alegrias, dançando o toré, onde expressam também algumas mágoas, cantando a mais popular estrofe das suas canções:
A garça vai avoando
com as penas que Deus lhe deu.
Contando pena por pena,
mais pena padeço eu.
Banhando-se nas águas do belo São Francisco, a cidade de Rodelas ergue-se ao lado da aldeia e há entre os seus habitantes perfeita harmonia e os mesmos direitos. Sente-se que os seus fundadores, tinham tanta atração ou interesse pelo portentoso caudal e por suas férteis ilhas, que não se contentaram em morar alguns metros distante das águas. Ou anteviram eles, que só o São Francisco, por meio da lavoura, poderia dar-lhes prosperidade ou traziam na alma a predestinação de uma barragem, que num futuro distante, inundaria todo o esforço e progresso de seus descendentes.
Rodelas - distrito; Rodelas vila florescente e promissora, integrou o município de Glória até o dia 31 de julho de 1962, data da sua emancipação política.
A 7 de abril de 1963 foi a instalação da nova cidade.

FOLCLORE:
   1 - O toré dançado pelos indígenas.
   2 - O zabumba com vários pífanos e 1 caixa, tocados pelos morenos, música típica das festas de S. João, o ínclito padroeiro da cidade.
   3 - Os penitentes, devoção exercida por homens de todas as estirpes.
   4 - A quadrilha - dança complicada e agradável, usada por todos ainda hoje, nas festas de S. João e que, no passado, era o ponto alto de toda a festa, dançada pelos pares de noivos ou namorados à meia noite ou ao encerrar-se o baile.
   5 - Realizavam promessas com danças de S. Gonçalo, importando a turma de dançadores do jatinã, na margem esquerda do S. Francisco." - Dulcina Cruz Lima.

3
João Justiniano da Fonseca
(Do inédito – No Correr do Tempo - Memórias)
UNIVERSIDADE FELIPE DOS SANTOS.    
Como vens tão vagarosa
Ó formosa e branca lua!
Vens com tua luz serena
Minha pena consolar.

Ó que lúgubre gemido
Sai daquele cajueiro.
             É do pássaro agoureiro
O sentido lamentar.

Geme aos céus mangueira antiga
Ao mover-se o rouco vento.
E renova o meu tormento,
Principia a delirar.

Já me assaltam, já me ferem,
Melancólicos cuidados.
São espectros esfaimados
Que me querem devorar

Esse poema entrou em minha memória lá pelos 14, 15 anos. Estava em algum escondido recanto e ressurge pondo-me lágrimas nos olhos quando abro o título acima — UNIVERSIDADE FELIPE DO SANTOS. Ó Deus, quanto a mim, tem custado em lágrimas, nesta fase final da vida amar o meu passado, lembrar as pessoas ao lado das quais vivi a infância e adolescência... Eu me sinto tão longe no tempo, tão perto no coração! Depois que faltou o primeiro irmão isso tem sido pior. Parece que há um lago no fundo dos meus olhos que transborda à minha revelia, quando volto à catingueira da Fazenda Nonô, quando vejo minha mãe bordando e cantando, sentada no chão batido da sala... Quando olho para as vacas no curral no fundo da casa de Rodelas... Foi ontem, Senhor, é neste instante ou foi há 80 anos? Não me perguntem o título do poema e o nome do autor, não me ficaram no arquivo. Casemiro de Abreu ou Gonçalves Dias — os primeiros que li... Não sei, não sei nem tenho o livro dessa leitura. Sei que me vem de Dulcina, de sua estante, da Escola Felipe dos Santos, do sobrado do major João Alventino. Até na escolha do nome da escola Dulcina foi grande. Quis homenagear o mártir, o sacrifício, a pobreza, a humildade.
Em 1933 foi Dulcina Lima. Mocinha, recém formada na Academia Santa Gertrudes, em Recife, Pernambuco. Creio que quando começou a estudar ainda não havia escola de professora em Petrolina. Só mais tarde funcionaria ali a chamada Escola Normal, para formação de professoras.
     Pernambuco foi por muitos anos, a sede cultural da região baiana do São Francisco. Em Petrolina, nos velhos tempos. Mas, já depois da formatura de Dulcina. As moças de Curaçá, Juazeiro, alto e baixo São Francisco vinham cursar a escola normal de Petrolina. Digo moças sem segurança. A escola era de freiras e havia um regime de internato que acolhia as estudantes de fora. Poderia ocorrer que rapazes de outras cidades se acomodassem em república ou pensionato? Não tenho disso, informação. Na região de Abaré, Chorrochó, Macururé e Rodelas, quem queria e podia estudar, ia, como foram Dulcina e sua irmã Durvalina para Recife, Pesqueira ou Petrolina. Ainda hoje, Pernambuco é essa sede cultural para Abaré, Chorrochó e Rodelas. Continua sendo em Pernambuco, Belém do São Francisco, que os moços e as moças dessas povoações vão buscar a escola de nível superior, representada por uma licenciatura em alguma das áreas de educação lá ministradas. Os que pretendiam cursos como direito, medicina, economia e outros não ministrados, então esses se encaminhavam para Salvador ou Recife, Aracaju ou Maceió. Acho que não me expresso bem, fantasio um pouco. No passado, a única pessoa de Rodelas que realizou um curso superior, foi o Dr. José Lima, que estudou medicina em Salvador, formando-se em 1935. O segundo a realizar um curso superior, foi Florêncio Almeida Lima, que sendo músico no Exército Nacional, diplomou-se em harmonia, no Rio de Janeiro. O terceiro, o Salvador Justiniano, já em 1959 — e estava-se 24 anos depois do Dr. José Lima. Como era difícil, pobre e lenta minha terra! Hoje, os que podem estudar, e já não são poucos, espalham-se por essas cidades. Andam por dezenas. E há ainda e felizmente, os que não podem, mas realizam. Enfrentam a cidade grande, o emprego modesto ou médio e cursam, a suor noturno, a universidade.
     Em 1933 foi Dulcina Lima. Essa alma de mestra que Deus fez baixar a terra e pôs em Rodelas durante toda a sua vida, para ensinar e educar, para viver e sofrer, sofrer sem gozo e sem outra preocupação que não fosse Rodelas. Não cabe em um capítulo, caberia em um livro de mil páginas. Está no meu coração, no coração de muitos de minha geração e gerações seguintes até 1973. Pálida é a imagem que minha imaginação pode criar a seu respeito, a respeito de sua grandeza espiritual, de seu amor e dedicação a Rodelas. Só uma coisa me compensa dessa incapacidade de pintar sua alma, é que a amo desde os primeiros dias de escola, sem arrefecimento. Já não terei muito a viver, mas sua presença suave irá comigo ao fim, ao lado de minha mãe e de mãe Rosa. No céu, se há céu, Deus — as pessoas me perdoem a dúvida —, pelo menos ela, minha mãe, mãe Rosa e meu pai, meu filho e meus irmãos quero que estejam me esperando.
Dulcina foi uma universidade. Ensinava porque amava o ensino, porque se realizava ensinando. Talvez por que fosse uma maneira de amar o semelhante — ela, que não tinha inclinação para o casamento, por isso morreu solteira, apesar de muitas vezes requestada. O ensino, para ela, foi uma lição de vida, de vida inteira. Chovesse ou fizesse sol, sua escola estava de portas abertas, entupida de meninos, matrícula sobre matrícula por volta dos 60 alunos nos primeiros tempos. Salvo algum passeio, gozava as férias escolares em Belém do São Francisco, onde residiam seus familiares. No primeiro dia do ano escolar, sem nunca faltar, iniciava as suas aulas. Chegava antes para as matrículas. De 1933 até 1963 quando foi nomeada Delegada Escolar. E no batente, visitando escolas e orientando a partir daí até 1973, quando foi demitida do cargo em razão de perseguição política. Como isso foi cruel! E dizer que quando foi demitida, Dulcina já havia encaminhado o pedido de aposentadoria, exatamente para deixar a vaga aos seus perseguidores sem passar pelo constrangimento da expulsão. A história da demissão está contada no livro "RODELAS — Curraleiros, Índios e Missionários", páginas 243/244. As mestras de Rodelas nos primeiros tempos, vinham por terem sido suas alunas. A semente se fez árvore, floresceu e frutificou. Quem em Rodelas, em termos educacionais e culturais não vêm dessa árvore? E a semente gera frutos ainda. Rodelas continua sendo, não obstante a miséria em que se degenerou o ensino médio por toda parte nas escolas públicas, uma terra de boa escolaridade e bom ensino. E tudo partiu de Dulcina. As primeiras professoras depois dela, foram suas alunas. A seguir, alunas de suas alunas, creio que até hoje. Duas ressalvas de que sei: a professora Maria Maniçoba, que veio de Itacuruba e a professora Maria Oliveira Meneses que veio de Campo Formoso. Duas honrosas ressalvas. Deixo em aberto a era mais recente, depois da nova cidade, que desconheço. Dessa nova cidade, aonde vou de raro em raro abraçar São João, desconheço tudo. Minha terra cresceu muito para o meu gosto. Manoel Bandeira escreveu em algum de seus poemas sobre Recife: "Minha terra cresceu, está uma cidade grande... Diabo leve quem fez crescer minha terra"! (mais ou menos assim é o texto). Pois bem, digo eu a mesma coisa: "Diabo leve quem fez crescer minha terra! Era tão bom o meu terno povoado da infância!”.
Neste instante eu vejo nitidamente. O sobrado, a escadinha estreita, de tábuas de facheiro. O assoalho, lá em cima, igualmente de tábuas de facheiro. Um sobrado, construído pobremente, entendo hoje, e só hoje o entendo, porque então o considerava de luxo, o único de Rodelas, por isso mesmo, rico para todos nós. Parece que o major João Alventino teve o gosto de possuir um sobrado semelhante ao habitado pelo seu avô Domingos da Fonseca na Rapador. Com certeza conheceu aquela residência. Quando o avô faleceu, ele já era adulto.
Ali, no sobrado de João Alventino, foi a morada de Dulcina e a escola. Trinta anos. E lá estava eu em um dos bancos da frente. Estudando e sonhando, sonhando e estudando.
Dulcina primava no ensino e no estímulo à redação e à leitura. Ensinava caligrafia. Apresento a seguir, algumas provas de final de curso de seus alunos, com rápidas observações sobre a correção. A letra é tão próxima, entre aluno e mestra, que mal dá para entender a emenda. Parte desse material irá impresso em original, a título de ilustração. Vejamos a primeira prova: "Antônio Cesário Rezende, 1936. Era a primeira turma, que se iniciou em 1933 e que foi a minha. Redação. Duas correções: Ele escreve:
"Quando chega o tempo de inverno não vê-se mais o sol."
A correção: "não se vê".
A outra:
    "Não se vê mais os pássaros saudarem o grande astro, pois não vêem o nascer desse durante esse tempo. Que não sentem os filhotes do aquecimento produzido pelo sol"... A emenda:
     "Que falta não sentem..."
Uma prova de 1941. Edite Gomes da Fonseca. Não menciona a série. Sendo uma carta de despedida, será sem dúvida, do 4° ano. Título: "Prova de exame. Português".
Texto:
    "Mui digna professora, felicidades! Que Jesus espalhe sobre vossa cabeça as graças celestiais, concedendo-vos muitas felicidades.
Venho por meio desta, fazer-vos a minha última despedida. D.Dulcina, vou partir desta escola.
Quase que não tenho palavras que possa exprimir".
Emenda: 
 "Quase não tenho palavras que possam"...
Prova de 1944. Eronita Almeida Fonseca. Aqui não há indicação de que se trata de prova. É uma carta encontrada no arquivo da mestra. No fecho, em seguida a assinatura, registra — 4° ano. Seria a prova final:
"Rodelas, sete de agosto de 1944.
"Estimada Risalva.
Faço-te esta missiva, para te participar a morte da nossa coleguinha Toínha, que Deus levou, tão cedo, para a eternidade".
Não há emenda de correção. O texto estaria correto? Parece que sim. Erro não vejo. Como não entendo disso...
Agora o Salvador, que então assinava Salvador Justino. Data de 1946. "Prova final do 4º ano. Português". É uma prova longa. Além da redação, apresenta quesitos sobre correção de texto e aritmética. Na redação, sem emenda corretiva, aparece, no alto, um redondo V 10 para a redação e um 9,5 — "Aprovado com distinção", parecendo que para o conjunto.
Inteiro o texto, com floreios e tropos literários:
        "Era tarde!...
Passeando nos cascalhos do São Francisco contemplava em êxtase o espetáculo vespertino.
O astro rei desprendia espadas de fogo como se quisesse incendiar o infinito. As nuvens diluíam-se em ouro. Depois o fanal sidéreo mergulhou no ocaso e o firmamento, com a ausência do sol, (não legível) os seus raios matizados. Mirando aquelas maravilhas senti uma alegria inenarrável.
Súbito, ouvi um grito de desespero.
Era uma pobre viúva que chorava amargamente. Tinha ela ido mendigar pela cidade e quando voltou, encontrou sua choupana incendiando-se tendo dentro seu filho. A mísera chorava pedindo socorro!
Quando, na abnegação de mãe ia lançar-se ao abismo, para salvar seu filhinho, um homem de coração nobre e destemido, vendo tão grande aflição, mergulhou no fogo devorador, trazendo a criança nos braços, apresentou-a a mãe.
A ditosa mãe, de joelhos, agradeceu a nobre ação".
Isso é um conto. E muito bem engendrado para os 14 anos. Se tivesse continuado, o Salvador teria sido o primeiro escritor de Rodelas. Então eu seria hoje, o segundo.
Nota:
 Este capítulo é de 2004, No São João de 2007, fui sair sozinho na cidade e me perdi. Era noite. Rodei o carro de rua em rua sem saber onde estava. Precisei tomar como guia, um moço que dirigia uma moto, que foi me deixar na entrada da pousada.


O INTELECTUAL

... Dulcina foi a orientadora, a responsável pelo despontar do pálido intelectual e até a força, o estímulo para que esse continuasse em mim. Na escola e nos meus tempos de adolescente em Rodelas, era sua biblioteca que me abastecia de leitura. E ao mostrar-lhe os primeiros escritos, foi a entusiasta incentivadora. Quando apareci, muito depois, poeta publicado, ela lia orgulhosa os primeiros poemas e mostrava os erros gráficos, as falhas em vernáculo. Já não adiantava a revisão. O livro estava na rua. Valeria mais esse ensinamento.
Quando prefeito de Rodelas, ela funcionou como oásis naquele deserto intelectual. Conversávamos horas sobre literatura e sobre o meu miúdo escrever. Sugeriu que eu tentasse o romance. Até então só escrevia poesia e relatórios oficiais. Foi, com efeito, depois que deixei a prefeitura, em janeiro de 1971, que me iniciei na ficção. O primeiro texto era um amontoado de intrigas políticas, trabalho praticamente autobiográfico, que ainda hoje está no meu arquivo de velharias. Em sua primeira viagem a Salvador para cuidar de assuntos escolares na Secretaria de Educação, foi minha hóspede. Mostrei-lhe o catatau e pedi suas opinião. Não pôs os pés na rua antes de ler o escrito de começo a fim. Fechou o datilografado e me disse:
- João, isso não é romance. É a vida alheia. Você não pode publicar nunca. Iria fazer um mundo de inimigos. E apontava o nome dos “personagens”:
- Esse é fulano. Esse é beltrano, é...
Fechei a papelada e recomecei. Sairia “Cacimba Seca”, com o aproveitamento de parte do antigo texto.
Mais adiante me passou um manuscrito com um resumo da história de Rodelas. Era um pretendido trabalho destinado a publicação no boletim da Inspetoria Regional de Educação em Ribeira do Pombal, que não concluiu por falta de elementos indispensáveis para pesquisa. E me disse:
- João escreva a história de sua terra.
Foi a semente do livro “Rodelas, Curraleiros, Índios e Missionários”. Essas coisas são uma repetição do muito que já escrevi sobre Dulcina, aqui e alhures. Não me cansa dizê-las e repetir.


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Salvador Justiniano da Fonseca

Dulcina Cruz Lima

Em 1933, precisamente no mês de março, chegava ao distrito de Rodelas a professora Dulcina Cruz Lima, nomeada para lecionar na primeira escola estadual. Formada pela Academia Santa Gertrudes, em Olinda, assumiu com vinte anos de idade, o cargo de professora, trazendo consigo sabedoria, exuberância, elegância e a força de uma imaginação criadora, envolvente e apaixonante. Enfrentou as agruras de um pequeno povoado, à época sem luz elétrica, água encanada, saneamento básico, e com um povo carente de tudo, mas, cheio de amor e entusiasmo, demonstrados na recepção de boas vindas.
A sua vida, cantada em prosa e verso por João Justiniano da Fonseca, ex-aluno, revela a devoção e o amor ao magistério, atividade a que se dedicou com grande afinco, exercendo-a com esmerado zelo e brilhantismo por mais de quarenta anos. Desempenhou sua função com dignidade e abnegação sacerdotal, revelando uma grande qualidade moral, visão ética e profunda consciência profissional, sem deixar de lutar contra o abandono da educação. Como oradora e palestrante era de expressão correta e fácil, fluente, pujante, convincente e cordial.
Marcante a sua preocupação em ministrar, além do ensino curricular exigido, matérias como geometria, astronomia, geologia, física e química, elaborando apostilas para facilitar o aprendizado de seus educandos. Preparava com empolgação as comemorações das datas cívicas, que eram saudadas pelos alunos com alvorada, hasteamento da bandeira, declamação de poesias, jogos esportivos e a beleza da ginástica dos bastões verdes e amarelos, de uma coreografia contagiante. A Escola Felipe dos Santos, sob a direção de Dulcina, foi considerada pelo então inspetor escolar Cloves Mota, padrão e modelo para a Bahia e o Brasil.
Não podemos esquecer o sobrado que, com sua beleza arquitetônica, fazia parte da vida de Dulcina e alunos, pois além de residência da professora, lá funcionavam a escola e o museu. Ao seu lado, majestoso o velho tamboril, que na primavera cobria-se de flores brancas e perfumadas; à frente dois frondosos tamarindeiros que chamavam a atenção, tamanha a beleza e semelhança.
Com a emancipação de Rodelas, Dulcina foi nomeada para o cargo de Delegada Escolar, exercendo-o com a postura dos bravos e a dignidade dos imortais. Nele se manteve, com pequena interrupção, a pedido, ate a aposentadoria, nunca esquecendo, contudo, a cidade que lhe acolheu e que muito lhe deve, tanto pela dedicação à sua gente, como pelo progresso alcançado.
A memória de Dulcina, por gratidão e justiça, deve ser ressaltada e cultuada sempre, a fim de que o seu exemplo continue a render frutos para as gerações atuais e futuras.
Com orgulho de seu ex-aluno.