sábado, 12 de outubro de 2013

Rodelas na Berlinda

RODELAS NA BERLINDA.
                          07-10-2013.

Em 1962 criam-se os municípios de Rodelas e Macururé, desmembrados do velho Município de Glória, antigo Curral dos Bois nascido com a colonização do Velho Chico pelos Ávilas. Estes ganham como brinde de amizade, porque eram os nobres descentes do velho Garcia D Ávida uma sesmaria que tinha como base a primeira cachoeira, que se denominaria logo mais de Itaparica, daí descendo até onde houvesse povoação (povoação, portuguesa entendamos), e isto vinha dar-se à foz do Rio Xingó. Subindo rio acima a partir da cachoeira até a última aldeia dos caririguaçu, onde era então a foz do Rio Salitre. Entendido os dois lados do rio e as ilhas. Era um presente de pai para filho. Não é sem razão que alguns dos cronistas do passado aos quais, quinhentos anos depois me incorporo, alvitraram que o criado Garcia D Ávila não era apenas criado, mas filho do Tomé de Sousa (Há outras razões para o juízo). Nunca se falou dos ascendestes deste Garcia.

Antes da concessão da sesmaria, Moréia, descendente de Caramuru/Catarina Paraguaçu recebera autorização do representante da coroa para pesquisar ouro entre Geremoabo e Jacobina, subindo até o Rio Salitre. Moréia foi bisavô de Francisco Dias de Ávila, a cujos descendes fora concedida a sesmaria de Itaparica. Então aí se emendavam as duas concessões e tudo viria a pertencer aos Ávilas a partir do segundo García D Ávila, bisneto do primeiro. Era o Sertão de Rodelas ampliando-se. Autorizada a “guerra justa” pelos representes da coroa para matar índios e tomar-lhes as terras veio o sangue derramado do Sobradinho até Remanso, rio acima, Piauí a fora pelos catingais até alcançar terras do Rio Grade do Norte. Não era o roubo apenas, era uma barbaridade. Os índios Rodelas, acompanhados pelo padre Nantes guerrearam seus irmãos. E foram tão valentes, tão famosos se fizeram que por muito tempo essa área se denominou sertão de Rodelas.

O sertão do São Francisco, salvo vários interregnos sempre foi castigado. Vem agora, cerca de quatrocentos anos depois de iniciada ali a catequização e a chamada colonização, pau sobre um dos mais pobres municípios da Bahia – Rodelas. Querem como desculpas de reduzir-se o prejuízo territorial do município de Glória que ficou realmente diminuto em extensão territorial sacrificar Rodelas.  Não é por aí. Não é por aí, chamados para opinião ou decisão todos os municípios do Alto Nordeste São Franciscanos da Bahia, todos os prefeitos da Bahia inteira, a Assembléia Legislativa e o Executivo Estadual, não é por ai que se resolve esse diminuto problema. Não há erro nenhum na divisão territorial Rodelas Glória, nem Glória Macururé. A divisa dos dois novos municípios ficou exatamente onde era a divisa dos distritos. Se a Justiça for ouvida não dirá mais do que isto e atual divisão ficara intata. Querem ver? Tomem este  caminho.

O bicho começou com o nascimento e a emancipação de Paulo Afonso. Paulo Afonso não era mais do mato à beira da cachoeira de Itaparica, jurisdicionado pelo município de Gloria, incluído no seu primeiro distrito. Era pertinho, pertinho da sede. A povoação estava do outro lado do rio em Delmiro Gouveia, parece que anteriormente chamada Jatobá. Ao construírem as turbinas, o trabalho estava mais próximo da Bahia e aqui se fixaram os trabalhadores ou cossacos, como se diga. Não havia moradas. Não sei se havia alguma casa da fazenda. O certo é que se iniciou a povoação de operários, em barracos construídos com sacos vazios de cimento – laterais e cobertura. O cimento usado na obra era o Poti. E de Poti chamou-se a povoação – Vila Poti. Veio o soldado e precisou-se construir um quartel e a cadeia. Veio a professora e com esta a escola. Logo mais o arrecadador e a coletoria. O comércio e a loja, o armazém e a bodega, a farmácia.  A povoação ia crescendo sem que se percebesse. Em pouco estavam o juiz e o cartório. Ficou grande a povoação, sempre maior. Não havia como não se desdobrasse do velho município. Deu-se-lhe o nome de Paulo Afonso e fixou-se a divisa onde melhor pareceu aos líderes de então. Era muito perto e Glória ficou pequeninho. Talvez se pudesse estender para o centro no sentido de Geremoabo. Pegaria uma parte do Raso da Catarina, em cujo futuro, eu pessoalmente faço muita fé. A minha mente, sempre trabalhando o amanhã, vê a água do Tocantins lançada para as cabeceiras do Rio São Francisco e daí descendo a molhar o Nordeste intero até o Rio Grande do Norte. Vê a água subindo das entranhas da terra no Raso da Catarina para transformar em Oasis o deserto.

Pensem senhores administradores políticos, neste momento em ampliar Glória para o alto, para o Raso da Catarina e ponham força conjunta para que o Governo Federal leve suas máquina para perfurar o solo. Eu nasci ouvindo que o trabalho engrandece e que o sucesso é dos que pensam alto. Não diminuam um para crescer outro. Busquem novo espaço. Sejamos grandes de mente e espírito.
Permito-me, de logo apresentar a lei que cria o município de indicando suas limitações. Aqui.
    
MUNICÍPIO DE RODELAS:
“Lei n. 1768 de 30 de julho de 1962. Cria o Município de Rodelas, desmembrado do de Glória. O Presidente do Tribunal de Justiça no exercício do Cargo de Governador do Estado da Bahia, faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Artigo 1º - Fica criado o Município de Rodelas, desmembrado do de Glória, com os seguintes limites:
COM O MUNICÍPIO DE MACURURÉ: Começa no marco no lugar Tamanduá, daí em reta para o marco no lugar Salgado do Melão; daí em reta ao ponto mais alto da Serra da Tigela e finalmente em reta à nascente do Riacho do Mulato.
COM O MUNICÍPIO DE CHORROCHÓ: Começa na nascente do rio do Mulato, desce por esse até a sua foz no rio São Francisco.
COM O ESTADO DE PERNAMBUCO: Começa na foz do rio do Mulato no rio São Francisco e pelo talvegue deste até a foz do riacho Itaquatiara  ou Malhada do Sal.
COM O MUNICÍPIO DE GLÓRIA: Começa no rio São Francisco na foz do riacho Itaquatiara ou Malhada do Sal, sobe por este até sua nascente; daí em reta ao marco no lugar Caraíba à margem do riacho do Tonã.
COM O MUNICÍPIO DE PAULO AFONSO: Começa no marco no lugar Caraíba, à margem do riacho do Tonã; daí em reta de direção Sul, até encontrar a reta tirada da nascente  do riacho Baixa do Angico, para o lugar Tamanduá.
COM O MUNICÍPIO DE GEREMOABO: Começa no marco de encontro da reta de direção Sul, tirada do marco no lugar Caraíba, à margem do riacho do Tonã, com a reta tirada da nascente do riacho da Baixa do Angico, para o lugar Tamanduá, segue por esta reta até o marco no lugar Tamanduá.
Artigo 2º - O Município de Rodelas será constituído de um único distrito: Rodelas (sede).
Artigo 3º - A eleição para prefeito e vereadores do Município de Rodelas será realizada a 7 de outubro de 1962 e a instalação do município e posse dos eleitos, efetuar-se-á a 7 de abril de 1963, ficando seu território até lá, sob a administração do Município de Glória.
Artigo 4º - O Município de Glória fica obrigado a aplicar no atual distrito de Rodelas, 70% da renda nele arrecada, até sua definitiva emancipação.
Artigo 5º - O Município de Rodelas responderá por parte da dívida do Município de Glória contraída até a data da publicação desta Lei e a sua avaliação será feita em Juízo Arbitral, na forma do Código do Processo Civil, salvo acordo homologado pelas respectivas Câmaras Municipais.
Parágrafo único - Na avaliação prevista neste artigo levar-se-á em conta, a superfície e o valor do território desmembrado, bem como a média da renda municipal nele arrecada no último triênio.
Artigo 6º - Até que tenha legislação própria, vigorará no novo município a legislação do Município de Glória, salvo a Lei Orçamentária, que será decretada por ato do Prefeito dentro de quinze dias da instalação do Município e mediante proposta do Departamento das Municipalidades.
Artigo 7º - Os funcionários com mais de dois anos de exercício no território de que foi constituído o novo município, terão neste assegurados os seus direitos.
Artigo 8º - Os próprios municípios situados no território desmembrado, passarão, independentemente de indenização, a propriedade do Município ora criado.
Artigo 9º - Os casos omissos nesta Lei serão regulados pela Lei n. 140 de 22 de dezembro de 1948 (Lei Orgânica dos Municípios).
Artigo 10º - Revogam-se as disposições em contrário
Palácio do Governo do Estado da Bahia, em 30 de julho de 1962. Adalício Nogueira, Ademar Martinelli Braga (publicado no Diário Oficial de 31/07/62”.

Esta lei é de 1962. Só agora mais de 50 anos depois se abre um debate de contestação. Parece esquisito. Não tenho informação sobre a localização das divisas propostas para a redução do município de Rodelas. Conforme as conheça e conforme eventual contestação a este texto abordarei a matéria sobre os índios Tuxá e Sorobabé (Rodelas), Pankararé (Gloria).

A matéria é longa. Trabalho-a no livro RODELAS, CURRALEIROS, ÍNDIOS E MISSIONÁRIOS, cuja primeira edição o leitor encontrará no site WWW.joaojustiniano.net Idealizo uma segunda edição já iniciada. Não sou um ancião aos 93 anos de idade, sou um homem de trabalho.  


               

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mais versos de João.

CUIDADOS PESSOAIS.
30-01- 2.012

Cuido em zelar-me bem no velho rosto
e limpar as perebas da careca.
Um velho é um velho, e seu maior desgosto
é na velhice despencar a beca.

Evito o sol da tarde, eis que, suposto,
o seu calor a pele nos resseca.
Ando à tardinha ou cedo, não se peca
se ao sol se foge desde o mês de agosto.

Não dispenso o boné em tempo algum.
E aos poucos aprendendo a usar bengala,
Levo na valsa - “ergo Sum qui sum”

o tempo que me sobra dos noventa.
Banho de mar e praia? Nem à bala!
Nem sal e nem açúcar, nem pimenta.


A FATURA DO TEMPO
Em 06.2. 2012. 8 horas

O tempo está cobrando muito caro
e não dispensa juros de um minuto.
É rei, é imperador, dono absoluto
não tem nobreza e é por demais, avaro.

- Senhor, maneira um pouco o teu disparo,
dá mais espaço e ar a esse conduto.
Não doa tanto a idade! Eu pouco escuto,
tropeço, enxergo mal, é escasso o faro!

Custo tão alto desmerece a vida.
Suaviza então a pena da ferida,
até à hora final e o barro eterno.

Basta que fique por lembrança apenas
igual às leves asas das falenas,
o amor e a luz de algum soneto terno.


CONTRASTES.
        14-02-2012.

Quisera a luz da lua em plenilúnio,
pendente, em céu sem nuvens para oeste.
As fogueiras ao alto, mês de junho,
no São João de que o sertão se veste.

Quisera construir de próprio punho,
toda a beleza e o esplendor celeste,
para brindar o chão que em mim acunho,
cravado à cruz do meu sertão agreste.

Queria ter poder, força e o dinheiro
que o homem diz – mola do mundo inteiro,
e doá-lo a redenção dos inviáveis.

Pergunto aos céus por que alguns têm tanto
no acumular mesquinho e avaro, enquanto
há milhões de milhões de miseráveis... 


O IGNOTO.
  15-02.2012.

Quem fez a rosa e o cravo branco, o lírio?
Quem pôs a luz no amanhecer do dia?
Quem primeiro rezou a Ave Maria,
e quem nos cobra à vida o ônus do empíreo?

Quem, gente, construiu o meu delírio?
Quem costurou em mim toda a euforia
que ao meu leitor oferto na poesia
e os sonhos do meu sonho aceso em círio?

E estes mundos além configurados
em astros, em espaços, vendavais
dos quais não se divisa originais?

Nós o vemos sem ver, quietos, calados,
o ignoto além do além espacial
sem saber se é ficção ou se é real!


CARNAVAL, TRABALHO NÃO.

 É chegado o carnaval
e eu fico olhando  à distância.
Salvador é um bacanal
reforce-se a vigilância.

Pule amigo, não faz mal
pular. Cuidado na entrância.
Carna é sempre um festival
da primeira a última instância.

Beba cerveja à vontade.
Chute a bola. (Bola a dois)!
Cuidado na contramão.

Na quarta depois das cinzas
volte ao trabalho, mas finjas
que fazes, não faças não!



FELIZ VERDADE.
Domingo de Carnaval, 21.02.2012, 19 horas.

Para Maria Inez Flores Pedroso lendo o belíssimo Algo Mais.

Do lado esquerdo, amiga, o coração
Comanda o amor, comanda o bem-querer.
E, por igual, os sonhos. Hei de crer,
Que a impulsão da gente à boa ação.

Do lado esquerdo a fé, a compaixão,
Vivo fluir da vida, o ser do ser,
Força vital suponho, e a bem dizer,
Princípio, meio e fim - consumação.

Morar do lado esquerdo, ser querido!
É a glória humana, é ser afim do afim,
Contar força de amor ou de amizade.

E eu fico vaidoso na velhice
Ouvindo amiga, o que você me disse.
Moro em teu coração, feliz verdade.



 SABER VIVER
Domingo de carnaval, 19-02-2012, às oito da manhã.

A vida é boa quando se consegue
Condições para o vôo e para o hotel.
Para a taça de vinho, pão e mel,
A companheira que o amor não negue.

Quando o saber nos basta, a gente segue
A dianteira. Tenha em seu farnel
A vontade de ser. Seja bedel
Ou seja rei, o trabalhar prossegue.

Sorria à vida pacientemente,
Não recuse o favor ao seu vizinho,
Deixe o barco correr sem ser urgente.

Use a caninha se não pode o vinho,
Pouse no rancho sempre alegremente
A companheira e um lençol de linho!



QUANDO CRISTO CHEGAR.
Domingo de carnaval, 19-02-2012, às 10 da manhã.

Quando Cristo chegar para a visita,
Desejo minha mãe seja presente.
Bandeirinhas de enfeite, alegremente,
Bordando as portas estirões de chita.

As portas e as janelas! Quero a dita
De me vestir de branco e ver, contente,
Mamãe rezando o terço e rindo à gente,
E eu a beijá-la, ela também visita.

Que Cristo me perdoe as muitas mágoas
Que lhe causei, conceda-me o perdão,
Eu de joelhos a beijar-lhe as chagas!

Quero São Pedro e São João também
Ao festival, presentes. Gratidão
Pelo bem que me cedem. Cristo, amém!


   

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O FADO

O FADO
Domingo de Carnaval, 21- 02 - 2012, as 15 horas

Encurta-se-me o tempo, encurralado
Na distância marcada nas folhinhas.
Apresso-me o trabalho e as pobres vinhas
Envelhecem comigo lado a lado.

Iremos para o fim. É o mesmo o fado
Dos Vinhaes e do homem. Curtas linhas
Nas quais se configuram por vizinhas,
As horas do lazer e do roçado...

Nunca esperei nem quero recompensas
Do legado que deixo. Horas extensas
De trabalho e suor foram meu gozo!

Muito bom ter passado dos noventa
A alma não mais aspira nem intenta
A gloria do chão bruto e pedregoso.

A Caminhada da Vida

A CAMINHADA DA VIDA
Domingo de carnaval, 19-02.2012, seis da manhã.

Adeus amigos meus, meus convidados
Para a festa da vida. Aqui meu zero.
Continuam vocês, desejo e espero
Que vençam rindo o tempo e conformados.

A vida é um nada se configurados
O tempo, a eternidade e este severo
Destino sem controle. O que não quero
E o que desejo incertos, não postados.

Nada pior do que a indefinição.
E definir... Não é da gente a ação,
Não configura ato pessoal.

Vem dos astros talvez, do inalcançado!
Adeus amigos! Finco o meu cajado.
Ide sem pressa vós até o final!


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A FORÇA DO AMOR

A FORÇA DO AMOR.

Faça-se a luz, eu disse, e a luz se fez.
nos olhos de meu bem, como eu queria.
Alarguem-se os caminhos; e outra vez,
prevaleceu a minha fantasia.

Que Deus é dos poetas, eu sabia,
e a lei que nos regula e nos norteia
nunca foi mais nem menos que a poesia
miríades de sonho, grãos de areia...

Meu amor prevalece sobre tudo,
porque aprendi a amar e ainda agora,
o amor dita meu norte e é meu escudo.

Se a mulher a quem amo e a quem saúdo
sabe de amor e sabe ser senhora,
viveremos meu reino e o seu escudo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Mais poesias de João Fonseca

AS FLORES ESTÃO VOLTANDO?
                                                             12.09.2010.

As flores estão voltando,
mês de setembro, é verdade...
Os jovens estão amando,
E eu o quê? - Sinto saudade...

Abre-se o sol. Manso, brando,
desponta a felicidade...
O tempo roda cantando,
e eu conto a triste saudade...

É setembro, a primavera
vem logo mais, nem se espera,
brotam flores nos rosais...

E eu aqui, Deus louvado,
Sozinho, desconsolado,
Esperando o quê? Que mais?


 II

Conto o tempo como o tempo
conto a vida indefinido...
É um contar dolorido
porque se conta em destempo...

Meu mundo passou... Perempto
deixou o ontem vencido.
O amanhã? Não tem sentido
o meu amanhã de tempo...

Quem fecha, gente, os noventa,
aguenta, por que aguenta,
sorrindo pra não chorar!

O consolo, a mim, por Deus,
é este poema que os meus
noventa sabem cantar...

III

Adeus, adeus ilusões,
Se eu, setembros vir a mais,
não os verão meus cabedais
de sonhos e comunhões...

Vê-los-ão em lampiões
de fuscos, doridos ais,
meu passado, o nunca mais,
de quem cria, sensações...

A idade longa é mentira,
fantasia a que se aspira
só para contar o tempo...

Canta João, tua lira,
sustente a triste mentira
de ser mentira de tempo

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

NOVE DÉCADAS DE VIDA

Inteligência

Nascido na cidade de Rodelas, interior da Bahia, o poeta e ficcionista  João Justiniano da Fonseca está comemorando 90 anos.
Em sua vasta carreira profissional, o intelectual exerceu importantes cargos públicos, como o de Conselheiro Vitalício do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia, Membro da União Brasileira de Trovadores e da Academia Rio Grandense de Letras.
João Justiniano da Fonseca possui mais de 15 obras literárias publicadas.
O seu último livro, intitulado “A Vida de Luiz Viana Filho”, foi publicado em 2005 pela editora do Senado Federal.

Licia Fabio » João Justiniano da Fonseca

Licia Fabio » João Justiniano da Fonseca

domingo, 27 de novembro de 2011

PELOURINHO - JJ DA FONSECA

Pelourinho


No Pelourinho, o antigo casario
ainda cheira a alecrim, recende a incenso;
fala de Iaiá e Sinhazinha, e penso
que do senhor e de um feitor sombrio.
 
Roca e almofada. A renda e o branco fio.
Cana e mandioca. A moenda, a roda, o intenso
trabalho escravo. O suor de um povo imenso
construindo a pátria ao sol ardente e ao frio.
 
Largo do Pelourinho! Eu suplicio
o pensamento em busca do suspenso
laço de força, do chicote esguio.
 
Vejo o suplício de uma raça e o tenso
ambiente. Gritos e ais, revolta e brio.
Grilhões no chão erguendo um povo imenso...

MULATA - JJ DA FONSECA

MULATA
 
Quero a mulata, imperatriz do solo,
Tataraneta da africana escrava.
E tenho orgulho dessa amante ignava,
O crioulo ao seio, o português ao colo.
 
Teve um senhor ao mesmo tempo escravo
E amamentou irmãos de pai. Na escola,
Mestra dos contos do país d´Angola,
É a mãe de fato, deste povo bravo.
 
Que brasileiro nega o sangue d´África?
Sentado nas poltronas de uma sala,
Quem não confessa a origem da senzala?
 
Bendito o sangue que nos deu o tráfico
E confundindo o português e o áfrico,
Criou a mulata para meu regalo!