terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mais versos de João.

CUIDADOS PESSOAIS.
30-01- 2.012

Cuido em zelar-me bem no velho rosto
e limpar as perebas da careca.
Um velho é um velho, e seu maior desgosto
é na velhice despencar a beca.

Evito o sol da tarde, eis que, suposto,
o seu calor a pele nos resseca.
Ando à tardinha ou cedo, não se peca
se ao sol se foge desde o mês de agosto.

Não dispenso o boné em tempo algum.
E aos poucos aprendendo a usar bengala,
Levo na valsa - “ergo Sum qui sum”

o tempo que me sobra dos noventa.
Banho de mar e praia? Nem à bala!
Nem sal e nem açúcar, nem pimenta.


A FATURA DO TEMPO
Em 06.2. 2012. 8 horas

O tempo está cobrando muito caro
e não dispensa juros de um minuto.
É rei, é imperador, dono absoluto
não tem nobreza e é por demais, avaro.

- Senhor, maneira um pouco o teu disparo,
dá mais espaço e ar a esse conduto.
Não doa tanto a idade! Eu pouco escuto,
tropeço, enxergo mal, é escasso o faro!

Custo tão alto desmerece a vida.
Suaviza então a pena da ferida,
até à hora final e o barro eterno.

Basta que fique por lembrança apenas
igual às leves asas das falenas,
o amor e a luz de algum soneto terno.


CONTRASTES.
        14-02-2012.

Quisera a luz da lua em plenilúnio,
pendente, em céu sem nuvens para oeste.
As fogueiras ao alto, mês de junho,
no São João de que o sertão se veste.

Quisera construir de próprio punho,
toda a beleza e o esplendor celeste,
para brindar o chão que em mim acunho,
cravado à cruz do meu sertão agreste.

Queria ter poder, força e o dinheiro
que o homem diz – mola do mundo inteiro,
e doá-lo a redenção dos inviáveis.

Pergunto aos céus por que alguns têm tanto
no acumular mesquinho e avaro, enquanto
há milhões de milhões de miseráveis... 


O IGNOTO.
  15-02.2012.

Quem fez a rosa e o cravo branco, o lírio?
Quem pôs a luz no amanhecer do dia?
Quem primeiro rezou a Ave Maria,
e quem nos cobra à vida o ônus do empíreo?

Quem, gente, construiu o meu delírio?
Quem costurou em mim toda a euforia
que ao meu leitor oferto na poesia
e os sonhos do meu sonho aceso em círio?

E estes mundos além configurados
em astros, em espaços, vendavais
dos quais não se divisa originais?

Nós o vemos sem ver, quietos, calados,
o ignoto além do além espacial
sem saber se é ficção ou se é real!


CARNAVAL, TRABALHO NÃO.

 É chegado o carnaval
e eu fico olhando  à distância.
Salvador é um bacanal
reforce-se a vigilância.

Pule amigo, não faz mal
pular. Cuidado na entrância.
Carna é sempre um festival
da primeira a última instância.

Beba cerveja à vontade.
Chute a bola. (Bola a dois)!
Cuidado na contramão.

Na quarta depois das cinzas
volte ao trabalho, mas finjas
que fazes, não faças não!



FELIZ VERDADE.
Domingo de Carnaval, 21.02.2012, 19 horas.

Para Maria Inez Flores Pedroso lendo o belíssimo Algo Mais.

Do lado esquerdo, amiga, o coração
Comanda o amor, comanda o bem-querer.
E, por igual, os sonhos. Hei de crer,
Que a impulsão da gente à boa ação.

Do lado esquerdo a fé, a compaixão,
Vivo fluir da vida, o ser do ser,
Força vital suponho, e a bem dizer,
Princípio, meio e fim - consumação.

Morar do lado esquerdo, ser querido!
É a glória humana, é ser afim do afim,
Contar força de amor ou de amizade.

E eu fico vaidoso na velhice
Ouvindo amiga, o que você me disse.
Moro em teu coração, feliz verdade.



 SABER VIVER
Domingo de carnaval, 19-02-2012, às oito da manhã.

A vida é boa quando se consegue
Condições para o vôo e para o hotel.
Para a taça de vinho, pão e mel,
A companheira que o amor não negue.

Quando o saber nos basta, a gente segue
A dianteira. Tenha em seu farnel
A vontade de ser. Seja bedel
Ou seja rei, o trabalhar prossegue.

Sorria à vida pacientemente,
Não recuse o favor ao seu vizinho,
Deixe o barco correr sem ser urgente.

Use a caninha se não pode o vinho,
Pouse no rancho sempre alegremente
A companheira e um lençol de linho!



QUANDO CRISTO CHEGAR.
Domingo de carnaval, 19-02-2012, às 10 da manhã.

Quando Cristo chegar para a visita,
Desejo minha mãe seja presente.
Bandeirinhas de enfeite, alegremente,
Bordando as portas estirões de chita.

As portas e as janelas! Quero a dita
De me vestir de branco e ver, contente,
Mamãe rezando o terço e rindo à gente,
E eu a beijá-la, ela também visita.

Que Cristo me perdoe as muitas mágoas
Que lhe causei, conceda-me o perdão,
Eu de joelhos a beijar-lhe as chagas!

Quero São Pedro e São João também
Ao festival, presentes. Gratidão
Pelo bem que me cedem. Cristo, amém!


   

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O FADO

O FADO
Domingo de Carnaval, 21- 02 - 2012, as 15 horas

Encurta-se-me o tempo, encurralado
Na distância marcada nas folhinhas.
Apresso-me o trabalho e as pobres vinhas
Envelhecem comigo lado a lado.

Iremos para o fim. É o mesmo o fado
Dos Vinhaes e do homem. Curtas linhas
Nas quais se configuram por vizinhas,
As horas do lazer e do roçado...

Nunca esperei nem quero recompensas
Do legado que deixo. Horas extensas
De trabalho e suor foram meu gozo!

Muito bom ter passado dos noventa
A alma não mais aspira nem intenta
A gloria do chão bruto e pedregoso.

A Caminhada da Vida

A CAMINHADA DA VIDA
Domingo de carnaval, 19-02.2012, seis da manhã.

Adeus amigos meus, meus convidados
Para a festa da vida. Aqui meu zero.
Continuam vocês, desejo e espero
Que vençam rindo o tempo e conformados.

A vida é um nada se configurados
O tempo, a eternidade e este severo
Destino sem controle. O que não quero
E o que desejo incertos, não postados.

Nada pior do que a indefinição.
E definir... Não é da gente a ação,
Não configura ato pessoal.

Vem dos astros talvez, do inalcançado!
Adeus amigos! Finco o meu cajado.
Ide sem pressa vós até o final!


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A FORÇA DO AMOR

A FORÇA DO AMOR.

Faça-se a luz, eu disse, e a luz se fez.
nos olhos de meu bem, como eu queria.
Alarguem-se os caminhos; e outra vez,
prevaleceu a minha fantasia.

Que Deus é dos poetas, eu sabia,
e a lei que nos regula e nos norteia
nunca foi mais nem menos que a poesia
miríades de sonho, grãos de areia...

Meu amor prevalece sobre tudo,
porque aprendi a amar e ainda agora,
o amor dita meu norte e é meu escudo.

Se a mulher a quem amo e a quem saúdo
sabe de amor e sabe ser senhora,
viveremos meu reino e o seu escudo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Mais poesias de João Fonseca

AS FLORES ESTÃO VOLTANDO?
                                                             12.09.2010.

As flores estão voltando,
mês de setembro, é verdade...
Os jovens estão amando,
E eu o quê? - Sinto saudade...

Abre-se o sol. Manso, brando,
desponta a felicidade...
O tempo roda cantando,
e eu conto a triste saudade...

É setembro, a primavera
vem logo mais, nem se espera,
brotam flores nos rosais...

E eu aqui, Deus louvado,
Sozinho, desconsolado,
Esperando o quê? Que mais?


 II

Conto o tempo como o tempo
conto a vida indefinido...
É um contar dolorido
porque se conta em destempo...

Meu mundo passou... Perempto
deixou o ontem vencido.
O amanhã? Não tem sentido
o meu amanhã de tempo...

Quem fecha, gente, os noventa,
aguenta, por que aguenta,
sorrindo pra não chorar!

O consolo, a mim, por Deus,
é este poema que os meus
noventa sabem cantar...

III

Adeus, adeus ilusões,
Se eu, setembros vir a mais,
não os verão meus cabedais
de sonhos e comunhões...

Vê-los-ão em lampiões
de fuscos, doridos ais,
meu passado, o nunca mais,
de quem cria, sensações...

A idade longa é mentira,
fantasia a que se aspira
só para contar o tempo...

Canta João, tua lira,
sustente a triste mentira
de ser mentira de tempo